04/01/2009

O fenômeno Coringa

Falar em vilões sempre suscita a menção a alguns filmes famosos, mas em vez de ficar citando arquétipos clássicos ou obras estreladas por Jack Nicholson, precisamos olhar para a atualidade desse tema. A temporada de filmes do ano passado chamou a atenção para um perfil incômodo de indivíduo. Daniel Plainview viveu no extremo por conta de sua ganância em Sangue Negro, enquanto Anton Chigurh matava indiscriminadamente com sua arma de ar comprimido no Texas de Onde os Fracos Não Têm Vez. O Coringa que aterrorizou Gotham City chegou apenas para fechar esse trio assustador, mas não inteiramente malévolo sob o aspecto sócio-religioso.

Eles são inteligentes, eficazes, autênticos e memoráveis. Boas características, certo? E tudo isso também é esperado dos heróis, porém, excetuando-se o Coringa, que enfrenta ninguém menos que Batman, os outros sujeitos se tornam excepcionais no mundo de hoje, onde o herói mascarado não existe e cujo roteiro não é feito para finais felizes. É a vitória da genialidade sobre a mediocridade e acomodação social.

Obviedade ou construção caricata não são problemas para Plainview, Chigurh ou o Coringa. Eles são donos de um carisma curioso, mas causam fascinação justamente por deixarem o espectador sem saber como reagir a seus repentes de insanidade. Aquela velha história da “área cinzenta” entre o certo e o errado há muito caiu por terra, caso não tivesse, o atual momento não deixaria dúvidas: os grandes roteiristas, que ainda defendem o cinema autoral, cansaram do formato dicotômico de antigamente. Curioso dizer que justamente o Coringa, sempre ligado ao extremismo visual por sua maquiagem, não é caricato.

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